A partida de um(a) filh(a) independentemente do tempo que tenha de vida que constitui, com toda certeza é uma das experiências mais traumáticas para os seus pais. O sentimento de plenitude e felicidade são violentamente esmagados pela dor da partida, pela ausência de sentido, pela incompreensão e, claro, pela necessidade de viver um luto involuntário.
TRAVESSIA DE UM LUTO - A vida não para. Vem em ondas, uma se sobrepondo à outra, às vezes parecendo nos afogar. Ou aos atropelos. Se não se freia, entra em congestionamento e engavetamento. Ou descarrilamento. E se é preciso coragem para se estar vivo, necessita-se ainda mais para seguir, continuar; morrer algo aniquila algo por dentro e, ainda assim, continuar vivendo. São ruínas, que precisam se reconstruir e se reconstituir, ainda que dos fragmentos e estilhaços restantes. Cujos remendos permanecem aparentes, posto que não se colam como antes. Faltam partes, ainda que mínimas… Embora gigantescas! Com veios remanescentes que não escondem suas marcas da própria vida.
Pais que fizeram esta travessia do luto, não tem mais o medo da partida ou de partir e nem do que a vida poderá proporcionar momentos bons ou ruins. Ao passar por isso já conhecem um pouco da morte, já fez um contato com ela, então desmistifica um pouco. Claro que num primeiro momento não. Durante a existência do Teteu conosco, eu e meu esposo tínhamos muito medo de que acontecesse alguma coisa com ele. E num dia comum de nossas vidas o pior aconteceu (...)
Encarar um luto não é e nunca será vergonha deixar a dor aparecer, muito pelo contrario é luto vivido, doído na alma, no coração, no corpo físico. Sentir vontade de chorar, gritar, xingar, emputecer, mas é preciso falar do quanto dói com Deus, com as paredes isto é encarar.
Ninguém passará pela trajetória da vida sem sentir dor por algo ou alguma coisa que perdemos, seja sofrer pela perda de um amor, pela perda de uma oportunidade, pela perda de um ente querido entre outra perdas, porque simplesmente somos vulneráveis e frágeis. No entanto não é o que acontece que nos marca, mas o que podemos fazer a partir de nossas dores.
É preciso deixar ir, é preciso saber perder, é preciso deixar-se perder para então apropriar-se do que resta. O luto é assim "não apresse o rio pois ele corre sozinho. 0 luto é assim, ele se faz no seu próprio tempo, ele tem a sua própria travessia"